Paz Cooperativista: Comunitarismo-Responsivo em Iniciativas de Peacebuilding na Bósnia-Herzegovina

Orientação: Bernardo Teles Fazendeiro

Programa de Doutoramento: Democracia no Século XXI

Esta tese investiga os mecanismos ontológicos pelos quais o cooperativismo reconfigura a construção da paz em contextos pós-conflito, tendo a Bósnia-Herzegovina como estudo de caso paradigmático. A partir de uma crítica epistemológica ao modelo hegemônico da paz liberal, centrado em reformas top-down e desconsiderando as dinâmicas comunitárias endógenas, o trabalho adota a viragem local (local turn) como quadro teórico alternativo para compreender processos de paz sustentável. Com uma abordagem interdisciplinar que articula teoria política, sociologia comunitária e estudos cooperativos, argumenta-se que as cooperativas bosníacas atuam como atores na superação das divisões étnicas, fomentando interdependências socioeconômicas e materializando a paz local conforme proposta por Richmond e Mac Ginty.

Metodologicamente, a investigação combina análise documental, estudo comparativo de três cooperativas emblemáticas e 16 entrevistas semiestruturadas, sustentando a hipótese de que tais organizações funcionam como microcosmos políticos que operacionalizam responsividade comunitária e voz moral, conforme Etzioni, criando espaços de justiça sociomoral e confiança interétnica. Os resultados apresentam que o cooperativismo transcende o modelo de paz liberal ao promover coesão por meio da solidariedade material e gestão democrática, estruturando comunidades resilientes pautadas em princípios cooperativistas e exercendo governança subsidiária em um contexto institucional fragilizado.

A contribuição paradigmática desta tese é tripartida, pois procura: 1) contribuir com o desenvolvimento do conceito de paz local ao incorporar o cooperativismo como uma variável analítica, propondo a noção de paz cooperativista; 2) analisar a comunidade como um processo dinâmico de colaboração responsiva; e 3) possibilitar a observação das economias sociais locais como pilares essenciais de um peacebuilding emancipatório. A noção de paz cooperativista emerge assim como um novo arquétipo teórico-prático, oferecendo um modelo que valoriza o protagonismo local e a construção coletiva da paz a partir de estruturas comunitárias autônomas.