Teses Defendidas

A Cidade Noctívaga: Ritmografia Urbana de um party district na cidade do Porto

Cláudia Rodrigues

Data de Defesa
4 de Novembro de 2016
Programa de Doutoramento
Cidades e Culturas Urbanas
Orientação
Carlos Fortuna
Resumo
A aproximação à cidade noctívaga, aos party districts e aos seus ritmos é apresentada na presente tese começando por uma contextualização conceptual e metodológica e prosseguindo para uma exposição, compassada e escalada pelos diversos capítulos, dos ritmos de produção da cidade noctívaga na cidade do Porto e do seu vigoroso party district que emergiu e se consolidou na Baixa da cidade no final da primeira década do século XXI. Sumariamente, o objeto e campo de estudo consistem nos ritmos produção da cidade noctívaga e de um party district na cidade do Porto e a metodologia usada no sentido de os apreender é a ritmografia urbana. Assim, dois desafios entrecruzados, traduzidos nas duas partes que esta tese compreende, são basilares na pesquisa: o primeiro diz respeito à apresentação do processo de conceptualização e aplicação de uma ritmografia urbana. A ritmografia que aqui se introduz - que na sua essência é transdisciplinar - integra princípios e práticas da ritmanálise e da crítica do quotidiano lefebvrianas; da fenomenologia; da etnografia; da errância/itinerância urbana; da perspetiva transacional; da abordagem qualitativa; e da grounded analysis. Recorre-se, para captação e tradução dos ritmos urbanos, ao diário de campo; à entrevista a noctívagos invictos; aos grupos de discussão espontâneos; à recolha mediática; e aos ritmogramas. Os movimentos constantes entre análise subjetiva e objetiva, entre microscopia e macroscopia social, entre prática e teoria, entre poesia e ciência, entre tempo e espaço, entre imersão e distanciamento, entre político e íntimo, entre sincronias e diacronias (que coloca a historiografia e o quotidiano em relação), assim como as transações entre saberes, constituem os atributos da ritmanálise reforçados por Henri Lefebvre (2008 [1992]) e incorporados e sublinhados pela ritmografia. A ritmografia em cenário urbano envolve tanto uma escuta participante (contemplativa, experiencial, experimental e sensitiva), como uma escuta distanciada, afastada (conceptual e reflexiva), num movimento permanente entre mobilização sensorial e corporal e o distanciamento reflexivo. O segundo desafio diz respeito ao exercício de aplicação da ritmografia à cidade noctívaga portuense que toma como seu descritor o party district e que, pode dizer-se, compreende duas fases - uma fase que se designou de recolha sistemática (2009-2012) do arquivo do quotidiano noctívago e outra que se designou de follow up (2013-2014) e que integra, ainda, a realização de entrevistas. O objetivo global da ritmografia é, então, compreender os ritmos - molares e moleculares, globais e locais - da produção noctívaga da cidade. A cidade noctívaga constitui um campo urbano caraterizado pela porosidade, plasticidade e dialética. Para se aceder aos seus ritmos e à organização social e experiência fenomenológica que estes traduzem, é imperativo recorrer a uma diversidade de perspetivas, práticas, métodos e saberes. Procura-se compreender a formação da cidade noctívaga no Porto a partir de um party district explorando a reação de diversas personagens urbanas a esta nova dinâmica noctívaga da cidade. Começando, na segunda parte da presente tese e tentando responder ao segundo desafio, por uma breve aproximação histórica sobre a formação da cidade noctívaga prossegue-se para a exposição (cartográfica/ritmográfica) da espacialização e temporalização do party district situando estes processos e dinâmicas na macro-produção neoliberal da cidade. De seguida, explora-se a regulação formal e informal do party district (ao nível global e local) e os ritmos noctívagos heterotópicos, liminares e emancipatórios que este abrange. Termina-se a apresentação desta ritmografia focando os registos experienciais e fenomenológicos da relação dos noctívagos com o espaço e a saída noturna portuense. Que ritmos são/foram macro e micro produzidos na cidade noctívaga no Porto? Como se espacializa e temporaliza a vida quotidiana na qual o quotidiano noctívago se afirma? Que processos estão envolvidos na territorialização da noite na cidade, isto é, na noturnalização da cidade? Que ritmos são criados por este party district ao nível dos espaços noctívagos interiores e exteriores e que compassos imprimem nas cadências da cidade? Como são experienciados e revelados os processos de produção/ mudança que se observam na cidade e operam por via do quotidiano noctívago? Eis alguns questionamentos que se perseguem nesta experiência ritmográfica que aqui se traduz.

Palavras chave:
Ritmografia urbana; cidade noctívaga; party district; territorialização e emancipação urbana.