Teses Defendidas

Cidades líquidas - Paisagens urbanas do Mondego-Coimbra

Bruno Franco Alves

Data de Defesa
13 de Junho de 2022
Programa de Doutoramento
Cidades e Culturas Urbanas
Orientação
Carlos Fortuna e Paulo Peixoto
Resumo
Nos últimos cinquenta anos, as paisagens de diversas cidades têm sido alteradas a partir da transformação dos rios urbanos e das suas frentes de água. No rio Mondego, a construção do sistema de barragens e do Açude-Ponte em Coimbra permitiu que o seu caudal fosse estabilizado no perímetro urbano, o que resultou em um espelho de água ao longo da cidade e impulsionou uma série de intervenções urbanas de requalificação da frente de rio. A pesquisa cujos resultados se apresentam sintetizados nesta tese tomou como objeto de análise sociológica o rio Mondego e a sua relação com a cidade de Coimbra. Assumindo como premissa que a história dos rios também revela a história das cidades e dos seus modos de vida, parte-se da interrogação genérica sobre o papel do rio Mondego para a constituição da paisagem urbana de Coimbra. A pesquisa aborda a influência dos rios no surgimento das cidades, em seu desenvolvimento urbano e morfologia, bem como o seu papel na conformação das urbanidades enquanto modo de vida na cidade. O caráter socionatural é sugerido como estatuto ontológico dos rios urbanos e, analiticamente, são manejados os conceitos de arranjos socionaturais e de práticas sociais para reforçar uma alternativa à dicotomia entre cultura e natureza como via pela qual a produção do espaço fluvial é frequentemente encarada. Ainda, no sentido de fornecer um enquadramento geral do tema, os processos de reconversão e de requalificação de frentes de rio pelos quais vêm passando as cidades pós-industriais são apresentados a partir das experiências concretas de transformação desses espaços em várias cidades do Globo, bem como é discutida a sociabilidade hídrica enquanto forma específica de interação social nesses espaços. Como estudo de caso, analisa-se o rio Mondego, os seus usos, as intervenções urbanas e as sociabilidades que se manifestam no espaço fluvial a partir da virada para o século XX, período anterior à estabilização do seu caudal, e as recentes transformações pelas quais esse rio urbano passa na atualidade. A pesquisa empírica assenta em uma abordagem de cariz qualitativo e combina a presença no terreno para observação direta por meio de caminhadas e entrevistas, inquéritos por questionários, análise documental, jornalística e imagética, por meio das quais se almeja extrair informações e dados sobre como os usos sociais do rio, seu papel socioeconômico, sua dimensão simbólica e seu espaço na paisagem urbana foram alterados neste período. O método regressivo-progressivo proposto por Henri Lefebvre é mobilizado para compreender a produção socioespacial do rio. São abordados os momentos pretéritos de cheia e de seca do rio (rio água e rio areia) para que se possa perceber a forma como o rio era vivido na cidade e o tipo de sociabilidade a que ele estava relacionado para então retornar ao tempo presente e elucidar o rio espelho, isto é, como ele se tornou um espaço de ludicidade usado para refletir a imagem de uma Coimbra contemporânea que é moderna, flexível, dinâmica: uma cidade líquida. A presença física dos elementos água e areia concretiza o argumento da agência dos elementos não-humanos e do espaço na vida social ao mostrar como as cheias, as secas e a posterior estabilização do rio implicaram no ritmo e no cotidiano da cidade e ajudaram a moldar diversas formas de sociabilidade e a converter uma paisagem fortemente marcada pela ruralidade em uma paisagem urbana que se entrelaça aos modelos globais propostos para a requalificação das cidades.

Palavras-chave: rios urbanos, frentes de água, Mondego, Coimbra, sociabilidade