Teses Defendidas

Festivais como moduladores da cidade contemporânea Diálogos entre São Paulo e Lisboa

Paulo Cezar Nunes Junior

Data de Defesa
19 de Julho de 2019
Programa de Doutoramento
Cidades e Culturas Urbanas
Orientação
Claudino Ferreira
Resumo
A cidade vem sendo transformada, de forma crescente, pela realização de eventos culturais e, mais especificamente, por meio de festivais. Partindo dessa premissa, esta pesquisa tem o intuito de investigar a maneira pela qual estes eventos têm modulado a construção material e imaterial no meio urbano, gerando processos de individuação e regulação segundo formas de controle associadas a espaços de liberdade, como sugerem Gilbert Simondon e Gilles Deleuze. Como casos de estudo foram escolhidos dois festivais urbanos e emblemáticos: a Virada Cultural, promovida desde 2005, em São Paulo (Brasil); e o Mexefest, realizado desde 2011, em Lisboa (Portugal). A investigação colocará foco nos intermediários culturais e organizadores, desses eventos, no mercado da comunicação a eles associados e nas demais esferas institucionais ligadas às cidades em análise. O estudo olha as práticas micropolíticas e as ambiências urbanas geradas por estes festivais, entendendo sua relação com a cidade mediada por dispositivos tecnológicos, em diferentes escalas e medidas de funcionamento. A Teoria do Ator Rede de Bruno Latour e o pós-estruturalismo de John Law são referências importantes na estratégia de desenvolvimento do trabalho. Em proximidade com a etnografia sensorial de Sarah Pink, tais autores enquadram a proposta de metodologia para a efemeridade que é utilizada nesta investigação. A pesquisa empírica está assentada numa abordagem de cariz qualitativo e combina a observação direta de caráter etnográfico com a realização de entrevistas e a análise documental. Construídos sobre o controle de espaços-tempo liminares e insinuando a sensação de liberdade e escolha personalizada, os festivais urbanos têm operado segundo o princípio do poder modular. Através desse dispositivo, eles medeiam subjetiva e objetivamente os sujeitos que deles participam e a eles atribuem valores de significação. A experiência em torno desses eventos tem se projetado não só para outras manifestações culturais - daí o caráter festivalizante assumido, hoje, pelas práticas culturais em geral - mas também para a relação do sujeito com outras esferas de sua vida. Seu cenário espetacularizado e efêmero cria e, ao mesmo tempo, reproduz um tipo de experiência característica dos novos modos de vida urbanos. Com base nesses princípios, os resultados da pesquisa são discutidos, a partir dos casos da Virada Cultural e do Mexefest, estão organizados em torno dos seguintes tópicos: (i) relação entre conflitos e imaginários de segurança na cidade; (ii) projetos de regeneração urbana e processos de gentrificação; (iii) agenciamentos entre mídia e programação dos festivais; (iv) articulação entre comunicação cultural e marketing urbano, (v) relações entre tecnologia, música e experiência urbana; (vi) ambientação, placemaking e estetização do espaço urbano; (vii) cosmopolitismo, turismo e festivalização da cidade; e (viii) patrimônio histórico e mercado de imagens.

PALAVRAS-CHAVE: cultura, cidade, festivais, controle social, música.