Teses Defendidas
L'amore mistico come relazione con l'Altro dal XVI al XVIII secolo in Spagna (Teresa d'Avila), Italia (Maria Maddalena de' Pazzi) e Portogallo (soror Maria Joana)
9 de Janeiro de 2024
Estudos Feministas
Maria Antónia Lopes
e
Maria Irene Ramalho
A questão básica que permeia a pesquisa é se o misticismo, entendido como contacto direto com o divino, teria representado uma forma de empoderamento feminino. As três freiras em análise, que viveram todas em mosteiros de clausura, tiveram uma relação direta ou mística com a Alteridade divina e, embora vivendo em diferentes contextos históricos, semelhanças substanciais podem ser encontradas na representação e autorrepresentação da mulher nos séculos XVI, XVII e XVIII: um modelo de santidade que privilegia as virtudes heroicas de obediência, modéstia, humildade e em geral a submissão à hierarquia eclesiástica masculina. Após o Concílio de Trento (1545-1563), implantou-se um controle estrito sobre os fenómenos místicos, que proliferaram nos conventos a fim de reafirmar a necessidade da mediação eclesiástica na relação com o divino, exacerbando-se a desconfiança em relação à mística feminina, cuja autenticidade é cuidadosamente examinada.
A análise de fontes autobiográficas e biográficas destacou, para este fim, o enorme peso de outros sujeitos históricos, representantes do domínio patriarcal, como os confessores, os bispos e a Inquisição. Constata-se que das três místicas a única a ter sérios problemas com a Inquisição foi Teresa de Ávila, ainda que indiretamente e sempre devido aos seus escritos. A teologia teresiana desvincula-se da teologia centrada na Paixão ao colocar a divindade no centro do ser humano, numa glorificação também feminina, que para a Inquisição beira a heresia. As outras duas, Maria Maddalena de' Pazzi e Maria Joana, são protegidas pelo rígido controle estabelecido que as conduz sem hesitação no caminho do "sofrimento".
Evitando tanto a abordagem fideísta, que oculta ou minimiza os aspetos coercitivos do caminho para a santidade, quanto a interpretação reducionista, que patologiza os fenómenos místicos, optou-se por incluir as experiências místicas dessas freiras na história mística, que começa na Antiguidade e termina no final do século XVIII. Embora os seus textos estejam expurgados uma forte carga subjetiva transparece nas três místicas examinadas, na articulação/mediação pessoal com o contexto histórico envolvente e com a forte pressão social que regula o seu comportamento.
Uma das hipóteses levantadas é a de que os êxtases são um sintoma da resistência feminina, segundo a abordagem de Foucault e Butler sobre a disciplina dos corpos. Para além da conquista ou não da canonização, a construção da própria santidade tem-se reconfirmado como um produto histórico que visa não só a regulação do comportamento feminino, mas também a produção de efeitos miméticos de reprodução e imitação a difundir nos ambientes conventuais. Os excessos ascéticos, os comportamentos autodestrutivos inserem-se numa leitura do corpo feminino como um "texto cultural", em que o excesso representa o sublinhar da prescrição eclesiástica.
No estudo das três místicas, a tese destaca a divergência entre a representação post mortem da santa e a realidade factual e concreta de sua experiência. A instituição da confissão, instrumento de controlo e de gestão dos comportamentos sociais, foi colocada numa linha de continuidade teórica com a sessão psicanalítica que se afirmou sobretudo no século XX. A representação feminina freudiana e lacaniana, substancialmente coincidente com a da mulher como um ser "incompleto, defeituoso", não leva em conta a especificidade e a diferença feminina , como aponta Luce Irigaray, e não contribui para uma referência identitária à transcendência feminina.
Data de Defesa
Programa de Doutoramento
Orientação
Resumo
A análise de fontes autobiográficas e biográficas destacou, para este fim, o enorme peso de outros sujeitos históricos, representantes do domínio patriarcal, como os confessores, os bispos e a Inquisição. Constata-se que das três místicas a única a ter sérios problemas com a Inquisição foi Teresa de Ávila, ainda que indiretamente e sempre devido aos seus escritos. A teologia teresiana desvincula-se da teologia centrada na Paixão ao colocar a divindade no centro do ser humano, numa glorificação também feminina, que para a Inquisição beira a heresia. As outras duas, Maria Maddalena de' Pazzi e Maria Joana, são protegidas pelo rígido controle estabelecido que as conduz sem hesitação no caminho do "sofrimento".
Evitando tanto a abordagem fideísta, que oculta ou minimiza os aspetos coercitivos do caminho para a santidade, quanto a interpretação reducionista, que patologiza os fenómenos místicos, optou-se por incluir as experiências místicas dessas freiras na história mística, que começa na Antiguidade e termina no final do século XVIII. Embora os seus textos estejam expurgados uma forte carga subjetiva transparece nas três místicas examinadas, na articulação/mediação pessoal com o contexto histórico envolvente e com a forte pressão social que regula o seu comportamento.
Uma das hipóteses levantadas é a de que os êxtases são um sintoma da resistência feminina, segundo a abordagem de Foucault e Butler sobre a disciplina dos corpos. Para além da conquista ou não da canonização, a construção da própria santidade tem-se reconfirmado como um produto histórico que visa não só a regulação do comportamento feminino, mas também a produção de efeitos miméticos de reprodução e imitação a difundir nos ambientes conventuais. Os excessos ascéticos, os comportamentos autodestrutivos inserem-se numa leitura do corpo feminino como um "texto cultural", em que o excesso representa o sublinhar da prescrição eclesiástica.
No estudo das três místicas, a tese destaca a divergência entre a representação post mortem da santa e a realidade factual e concreta de sua experiência. A instituição da confissão, instrumento de controlo e de gestão dos comportamentos sociais, foi colocada numa linha de continuidade teórica com a sessão psicanalítica que se afirmou sobretudo no século XX. A representação feminina freudiana e lacaniana, substancialmente coincidente com a da mulher como um ser "incompleto, defeituoso", não leva em conta a especificidade e a diferença feminina , como aponta Luce Irigaray, e não contribui para uma referência identitária à transcendência feminina.